A abertura do pré-Carnaval nos lembrou que um pouco de brilhomelhor horário para jogar fortune tiger, música alta e gente suada ocupando ruas que, no resto do ano, só servem para o trânsito ou para o medo, ainda pode ser um ato de resistência. Será? Quem monta o palco, vende a cerveja, limpa as ruas e cozinha para os foliões tem seu direito à festa cerceado, assim como sua garantia de viver com dignidade. Para quem trabalha no Carnaval, o direito de viver e resistir não é tão garantido assim. Este texto é um lembrete de que, enquanto nos embriagamos, alguém acorda cedo para gelar a cerveja – e, quase sempre, esse alguém é negro.
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O Carnaval movimenta bilhões. Só em São Paulo, o desfile das escolas de samba injeta anualmente mais de R$ 2 bilhões na economia da cidade, empregando milhares de pessoas direta e indiretamente. No entanto, o trabalho que sustenta essa festa não é reconhecido na mesma proporção. A lógica da exploração ainda reina: jornadas extenuantesmelhor horário para jogar fortune tiger, baixos salários e invisibilidade marcam a realidade dos trabalhadores do Carnaval. De quem cozinha no camarote à equipe que recolhe o lixo ao amanhecer, são sempre os mesmos corpos, as mesmas histórias e memórias da folia.